Esta semana sinto-me piquena e muito colorida.
Como complemento, as frases por mim proferidas - com voz incompreensivelmente fininha - são tão estranhas quanto básicas.
É no que dá passar os dias a falar com uma rapariga que está grávida, que me leva a ver tudo e mais qualquer coisita de bebés.
Isto para não falar de uma rapariga (mais velha que eu, há que frisá-lo), que de vez em quando (todos os dias) decide vir me encher o juizo com conversas do "Tico e Teco" que mais chega a parecer uma criança na idade de entrada para a puberdade.
Ora vejamos:
"Fulano hoje disse-me isto...! Estou tão contente! Amanhã à noite vou sair e vou ao bar onde ele custuma tar, talvez esteja lá!" e eu a pensar: "Hummm! Que interessante!"
Ou:
"Beltrano ontem mostrou que gostava de mim, mandou-me uma carta! E o Cicrano amanhã vai-me levar a dar uma volta!" e eu a olhar com cara de anormal!
Mas não é tudo:
"Que faço, estou tão indecisa! Ajuda-me!"
E eu a pensar:
"Atira-te de uma ponte, não, melhor: Atira-te de uma ponte mas com uma corda ao pescoço! Não!... (e é de relembrar que por esta altura o meu eu já se estava a modificar, as minhas tripas e seus companheiros começavam a tomar outras formas, estava já em processo de transformação, o sadismo começava a tomar conta de mim, os olhos semicerrados, como quem diz: Eu estou-te a ver! Uma pequena gota de suor escorreu da minha têmpora direita eu estava quase, quase na fase final de sadismo sem escrúpulos) ...Agarra nas cuecas, enfia-as na cabeça, despe-te e prende com agrafos nos mamilos uma placa de madeira a dizer: "Não me salvem, vou para junto do meu criador!", rapa toda a zona púbica, pinta as beiças da rata de vermelho vivo e calça as sandálias mais ridiculas que encontrares e aí sim, prende uma corda ao pescoço e atira-te da ponte!"
Mas não disse! Consegui com que as palavras embatessem nas minhas cordas vocais e voltassem para o fundo do estômago, de onde tinham saido, qual bola de ping-pong!
Limitei-me então a proferir roucamente um "ham ham" muito puxadinho!
Mas não pensem que fica por aqui:
"Ah e ontem zanguei-me com Fulano porque me desligou o telemóvel na cara e não me respondeu mais às mensagens! É um estupido! E o outro que agora não me larga a porta! Tá cá um chatoooo!"
Como por esta altura o meu cérebro já estava quase em ponto rebuçado, apenas disse:
"Ham...? Explica-me... como se eu fosse... uma criança de 4 anos!"
"És tão duh! Tava a dizer que o outro agora anda super chato, não me larga... bla bla bla..."
E foi aqui, ouvi um CLANK interior e percebi que o meu cerebro tinha chegado no seu limite.
Juro que não o fiz por mal, mas não aguentei mais! Eu sei:
mea culpa,
mea culpa! Mas não há pachorra, só espero não vir a ser castigada por aquele que está lá em cima, por não ter sido mais tolerante!
E então disse alto e em bom som:
"OLHA LÁ! ENTÃO E SE FOSSES TU A LARGARES-ME? HAM? NÃO ERA UMA BOA IDEIA? TODOS OS DIAS, COMEÇA A SER UM POUCO PARA O DEMAIS NÃO ACHAS? TIPO: EU TENHO COISAS A FAZER, TOU NO MEU LOCAL DE TRABALHO, NÃO TENHO A TUA VIDA! ALIÁS PORQUE É QUE NÃO COMEÇAS A TE COMPORTAR MAIS COMO UMA MULHERZINHA DE 25 ANOS, QUE É A TUA IDADE, AO INVÉS DE PARECERES UMA ADOLESCENTEZINHA DE 15 COM A CATOTA AOS SALTOS! AH MENTECAPTA DO CANECO! FOSGA-SEEE!"
E foi aqui que ela desabou num rio:
"Mas, mas... Eu só queria a tua ajuda! Tu és minha amiga não és?"
"Sou e eu tenho te dado ajuda, muita ajuda, e o que é que fazes com ela? NADA! SIMPLESMENTE NADA! Às tantas já cansa, não achas?! Outra coisa, quando eu não estou disponível, é porque não estou disponível, não vale a pena chateares, porque não vou poder falar, aliás tu não és o centro do mundo e a vida não acaba amanhã, por isso minha amiga, há que aprender a não pensar só no próprio umbigo e ter mais calminha tá?"
Novamente a única coisa que obtive foi outro rio à minha frente, como já não conseguia aguentar aquela situação, recompus-me e disse, mas muito a custo:
"Ai, ai... Des... des... desculpa-me! Fui muito brusca! Pára lá de chorar!"
"Mas foste má! Eu não sou assim! Tou muito triste!"
"Desculpa, vá, queres que eu te ofereça algo da Kitty, como pedido de desculpas?"
"Não, agora não!"
E aqui engoli em seco, respirei fundo e antes de ter dito o que disse de seguida, pensei: "Ximi, sabes que se fores por este caminho vai ser quase impossivel regressares! É uma viagem só de ida!"- mas depois:
"Então! Vá lá amiguinha, lindinha, kiduxa, fofinha, pára de chorar! Vamos fazer as pazesinhas! Por favor, vá eu sou toda ouvidinhos e vou-te dar todos os conselhinhos que necessitares! Podes contar tudo!"
"A sério?"
"A sério, vá, pára lá de chorar!"
"Ok!"
Bem escusado será dizer que o meu local de trabalho daí a um bocado já mais parecia um banco de jardim, em que os passarinhos cantam, as borboletas dançam, as flores estão prali a cheirar bem e tudo é um mar de rosas, e eu a ouvi-la, a ouvi-la, a ouvi-la...